segunda-feira, 6 de novembro de 2017

A verdade vindo à Tona Offshores

Isabel II e Administração Trump atingidos por nova fuga de informação sobre offshores



LUSA/FACUNDO ARRIZABALAGA
Paradise Papers revelam investimentos da Rainha de Inglaterra em fundos nas ilhas Caimão e ligações do secretário do Comércio nos EUA à Rússia.


Foi publicado neste domingo 
o mais recente capítulo da investigação às offshorespor parte do ICIJ 
(Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação), do qual faz parte 
em Portugal o semanário Expresso, onde foram analisados mais de 13 milhões 
de ficheiros que expõem ligações entre a Rússia e o secretário do Comércio da 
Administração Trump, negócios do responsável de angariação de fundos do
 primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, e os investimentos da Rainha I
sabel II de Inglaterra.
Uma das revelações tornadas públicas pelos chamados Paradise Papers 
implica a Rainha Isabel II, cujos gestores pessoais terão investido, a partir 
de 2007, milhões de euros através de um fundo no paraíso fiscal das ilhas 
Caimão.

Grande parte da fuga de informação terá tido origem na Appleby, um escritório 
de advogados sediado nas Bermudas e com filiais em Hong Kong, Xangai, ilhas 
Virgens e nas ilhas Caimão, entre outros paraísos fiscais. São quase sete milhões 
os documentos referentes a este escritório ou a empresas associadas agora 
revelados.

Secretário de Trump com ligações à Rússia

As implicações do novo escândalo chegam também à Administração Trump. 
Sabe-se agora que Wilbur Ross, o multimilionário que é o actual secretário do 
Comércio dos EUA, detém uma participação numa empresa de transporte 
marítimo com ligações a outra companhia que é detida, entre outros, pelo genro 
de Vladimir Putin e por um magnata russo próximo do Presidente russo, e que
 foi alvo de sanções por parte do Departamento do Tesouro norte-americano.
Ross tinha abdicado da maioria das suas participações em empresas antes de s
er nomeado para o Governo norte-americano, mas sabe-se agora que manteve a 
participação nesta empresa de transporte – a Navigator Holdings Ltd.

A Navigator Holdings Ltd., que opera através das ilhas Marshall, tem uma 
parceria com a Sibur, uma empresa de gás com sede em Moscovo, cujo 
co-proprietário é Kirill Shamalov, marido de Katerina Tikhonova, filha de Putin, 
e também Gennady Timchenko, um oligarca com diversas actividades no 
sector energético que, segundo o Departamento do Tesouro, estão “directamente 
ligadas a Putin”.

Segundo a documentação analisada pelo consórcio, a Navigator iniciou esta 
relação com a Sibur a partir de 2014, altura em que os EUA e a União Europeia
 começaram a aplicar os pacotes de sanções contra a Rússia devido à intervenção 
militar na Crimeia. Desde então, a Navigator Holdings Ltd. recebeu 68 milhões 
de dólares da Sibur.

Rainha Isabel II com investimentos através das ilhas Caimão
Os documentos da Appleby demonstram também como cerca de dez milhões d
e libras (mais de 11 milhões de euros) dos activos pessoais de Isabel II, geridos 
e concentrados no ducado de Lancaster, foram utilizados para investimentos 
num conjunto de empresas através de um fundo nas ilhas Caimão. O ducado
 havia já tornado público os investimentos imobiliários da Rainha em Inglaterra, 
porém nunca tinha sido relevado a utilização de offshores para outros negócios 
por parte da monarca. 

A partir deste fundo nas Caimão os montantes investidos eram direccionados
 para empresas, incluindo a cadeia Threshers e a BrightHouse, uma retalhista 
de capitais de investimento e de crédito, e que foi criticada por alegadamente 
explorar milhares de famílias pobres e pessoas vulneráveis. O ducado, em 
resposta ao consórcio, garantiu que a participação na BrightHouse é 
insignificante, mas não revela a dimensão dos investimentos feitos desde 2005. 

O The Guardian, parceiro do consórcio internacional de jornalistas, aponta 
também o dedo a Lorde Ashcroft, um dos principais financiadores do Partido 
Conservador de Theresa May, revelando a existência, até hoje desconhecida, 
de um fundo no valor de 382 milhões de euros sediado nas Bermudas e 
mediado pela Appleby. O jornal sublinha que não estará em causa qualquer 
ilegalidade, mas que a revelação traz uma nova dor de cabeça para a 
primeira-ministra britânica.

Assessor próximo de Trudeau transferiu milhões para offshores

As revelações chegam ainda ao Canadá. Stephen Bronfman, conselheiro 
próximo do actual primeiro-ministro, Justin Trudeau, e o principal 
responsável pela angariação de fundos para o partido do governante, 
transferiu milhões de dólares para as ilhas Caimão juntamente com a família 
do antigo senador Leo Kolber, que faz parte do Partido Liberal de Trudeau. 
Esta operação permitiu a poupança em impostos no Canadá, Israel e EUA.
Além disso, os representantes de Bronfman e Kolber foram realizando 
algumas manobras de bastidores no seio do Parlamento canadiano para 
que as propostas de lei que visavam os rendimentos a partir de offshores 
fossem rejeitadas.
Bronfman foi fundamental para que Trudeau chegasse à liderança do Partido 
Liberal em 2013 e ao cargo de primeiro-ministro em 2015. 

Bono e Madonna também recorreram a paraísos fiscais

Um dos nomes que surgem de forma mais inesperada nos Paradise Papers 
é o do vocalista dos U2 – Paul Hewson, mais conhecido por Bono. O músico, 
aponta o The Guardian, utilizou em 2007 uma companhia sediada em Malta, 
a Nude Estates, onde os investidores estrangeiros pagam apenas 5% de impostos 
sobre os seus lucros, para adquirir um centro comercial na Lituânia por cerca 
de 5,8 milhões de euros. A grande superfície passaria depois, em 2012, para as 
mãos de outra empresa, a Nude Estates 1, na ilha de Guernsey, outro paraíso 
fiscal. Ao jornal britânico, uma porta-voz do cantor defende que o músico
 irlandês não cometeu qualquer infracção enquanto “investidor minoritário” 
na empresa maltesa.

Em relação a Madonna, a cantora norte-americana a residir actualmente 
em Portugal, a investigação do consórcio internacional cita documentos da 
Appleby que referem um investimento feito em 1998 em acções da SafeGard
 Medical Limited, uma companhia com sede nas Bermudas, em nome de Shari 
Goldschmidt.
Paul Allen, co-fundador da Microsoft, e a Rainha Rania da Jordânia são 
outros nomes visados na investigação do consórcio, que promete novas 
revelações e desenvolvimentos para os próximos dias.

                                                        💖👽💖

                                   Relatório Informação da Frota Prateada


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